Cultura Turistica

A chegada das festas de fim de ano e férias de verão é uma época muito propicia para discutirmos o turismo no Brasil. Ainda mais com a proximidade da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Rio – proximidade sim, pois algumas das obras necessárias para abrigar esses eventos já estão atrasadas.

É clichê se dizer que o potencial turístico do Brasil é enorme, pois temos clima bom o ano todo, natureza abençoada, 8 mil km de praias lindas, florestas, rios e montanhas de todo tipo, ausência de conflitos étnicos, religiosos e políticos e, principalmente, um povo alegre, simpático e acolhedor.

É evidente que estes argumentos são verdadeiros. Porém, achar que nosso turismo vai se desenvolver apoiado nestas variáveis é ignorância pura. Dados do Ministério do Turismo publicados em outubro mostram um cenário bastante aquém das nossas possibilidades.

O déficit cambial gerado pelo turismo, de janeiro a setembro de 2010, é de US$ 7,1 bilhões. O Brasil recebeu, em 2009, 4,8 milhões de turistas estrangeiros, mesma quantidade recebida em 2004. Isso significa que temos apenas 0,55% de market-share no turismo mundial – muito pouco para nosso potencial.

É importante lembrar que o turismo é um setor multifacetado, ou seja, é composto por dezenas de segmentos econômicos que tem um forte grau de interdependência – hotéis, agências e operadoras de turismo, transportes, bares e restaurantes, atividades de lazer, shoppings, centros de convenções, etc. Sem falar na infra-estrutura necessária: aeroportos, portos, estradas, comunicações, saúde e, claro, segurança pública.

Exatamente por isso, é fundamental uma política de Estado que não apenas aglutine e direcione todos esses agentes, mas que também desenvolva no país o que poderíamos chamar de “Cultura Turística”.

Cultura turística é sabermos que o turismo é a indústria que mais emprega no mundo.

Por isso mesmo, precisamos entender que o turista não é alguém que vem atrapalhar nosso cotidiano – ele é um cliente, que quando nos visita, gera empregos, divisas, e contribui para nosso desenvolvimento.

Cultura turística é lembrarmos que, como pólo receptivo, disputamos com o mundo todo. Apenas como comparação: a Ucrânia recebe 4 vezes mais turistas que o Brasil. A Turquia e a Malásia recebem 5 vezes mais. Para concorrer neste mercado, temos que saber que as pessoas gostam de serem bem tratadas, gostam de lugares limpos, seguros, confortáveis, alegres, que funcionem, onde as regras estabelecidas são cumpridas. A experiência da viagem não pode ser apenas boa – ela tem que ser inesquecível, memorável.

Cultura turística é também entender que devemos oferecer serviços de qualidade. Por exemplo: muitos turistas querem conhecer nossas atrações exóticas. No entanto, ficar hospedado na selva amazônica é bem diferente de ser tratado de maneira selvagem.

Cultura turística é entender que não devemos olhar o turista como alguém que, por não ser tão “malandro” como nós, pode ser ludibriado. Ao contrário, o turista é um cidadão, um ser humano e, por fim, um cliente – e como tal, deseja e merece todo nosso respeito.

É alguém que escolheu nos visitar – e como manda a boa educação, tratá-lo bem é nossa obrigação. Até mesmo porque é ele que vai fazer a melhor divulgação do nosso país.

Por isso, apostar apenas em nossas belezas naturais e na hospitalidade e simpatia do nosso povo com elementos diferenciadores para conquistarmos a posição que podemos ter no cenário turístico mundial é, antes de tudo, sinal de desconhecimento e incompetência na gestão de uma indústria que pode ser uma das grandes alavancas para nosso desenvolvimento.

Há muito por fazer. Com a palavra, nossos governantes. Os discursos de campanha para o setor turístico foram pobres, superficiais e vazios. Tomara as ações sejam melhores.

Será um desperdício (mais um) se perdermos mais esta oportunidade.

Marcelo “Jimmy” Pontes é Professor de Marketing da ESPM e consultor de empresas.

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